domingo, 19 de junho de 2011

A autenticidade das identidades virtuais

As reflexões apresentadas a seguir são resultado da atividade proposta sobre “A virtualização das relações sociais” da unidade curricular Educação e Sociedade em Rede, ministrada pelo Prof. António Texeira, do Mestrado em Pedagogia do e-Learning, da Universidade Aberta.

Hall (2006) apresenta três concepções de identidade do sujeito:
  1. Sujeito do iluminismo – totalmente centrado cujo a concepção é muito individualista do sujeito e de sua identidade;
  2. Sujeito sociológico – a identidade é forma na intereção entre o eu e a sociedade, o núcleo interior do sujeito náo era autônomo e auto-suficiente mas formado a partir das relações com outras pessoas importantes para ele ;
  3. Sujeito pós-moderno – em contraposição a um sujeito vivido com uma identidade unificada e estável , aparece um sujeito fragmentado, composto de várias identidades, algumas vezes contraditórias e não-resolvidas.
Segundo Leão (2006), “a pós-modernidade provém da modernidade e nos remete a um conjunto de fenômenos de transformação radical que, avassaladoramente, vai cobrindo todos os espaços da existência atual e futura dos homens em sociedade”. Ainda, de acordo com este autor, um dos exemplos da pós-modernidade, é a sociedade em rede.

Ora, considerando que a “sociedade em rede é o conjunto de seres humanos que partilham interesses comuns, ligados por pontos e ferramentas que facilitam a comunicação e a partilha de experiências entre si. Nesta partilha colectiva, cada indivíduo ruma ao descobrimento da sua identidade individual e colectiva” (definição elaborada pela turma MPEL05 para unidade curricular Educação e Sociedade em Rede), podemos dizer, então, que a identidade do sujeito na sociedade em rede não é única mas, como define Hall (2006), é composta de várias identidades.

Dependendo do tipo de rede na qual nos conectamos, assumimos uma identidade diferente, com comportamentos diferentes. Por exemplo, no Facebook, rede social que permite a criação de um perfil com informações pessoais, fotos e vídeos, nossa identidade está mais voltada para o relacionamento informais. No Linkedin, rede social voltada para o relacionamento profissional, a identidade assumida está ligada ao mundo dos negócios. E assim, a cada possibilidade de interação na rede, assumimos uma identidade diferente e buscamos uma forma de nos fazer presente em um mundo virtual e, até, sair do anonimato de uma vida real.

Um ótimo exemplo de uma identidade virtual é a história do brasileiro de 23 anos, Jonatas Penna, que mora nos Estados Unidos desde os 13 anos, que largou o seu curso de Medicina para se tornar um dos mais famosos vlogueiros do mundo, ao transformar o Youtube, rede social de vídeos, em uma fonte de criação e renda. É mais conhecido na rede por Mystery Guitar Man, também pode ser encontrado como Joe Penna. Possui um dos canais no Youtube com maior número de inscrição e ganha a vida produzindo vídeos divertidos no estúdio montado no próprio quarto. Uma coisa que me chamou a atenção nos seus vídeos, além da genialidade, foi que, na maioria das suas aparições, o rapaz está sempre de óculos escuros. Será que é uma forma de distinguir a sua identidade virtual da sua real? Logo lembrei do filme A origem (Inceptinon), que traz uma trama que envolve o mundo real e o mundo dos sonhos e que para distinguir quando está em um ou em outro, o personagem principal (Leonardo DiCaprio), adota um amuleto para lhe garantir a veracidade, autenticidade do mundo vivido.

Nem mesmo o Joe Penna sabia aonde os vídeos iam lhe levar. Em junho/2010 surgiu uma pista quando o seu trabalho lhe rendeu o prêmio de um dos 20 diretores revelação do Festival de Publicidade de Cannes um dos mais importante do mundo. Depois da rede, o reconhecimento do seu trabalho foi feito por uma entidade real e hoje, o que começou com vídeos produzidos em casa passou a ser o trabalho de um jovem diretor remunerado pelo Google por cada clique em anúncio e contratado por instituições bem reais como a Coca-Cola e o McDonald’s para dirigir comerciais.

Nem sempre uma identidade virtual recebe um reconhecimento do mundo real, são milhares de jovens que se expõe na rede, muitas vezes de maneira exagerada, em busca da aceitação porém, é preciso ter conteúdo verdadeiro e de qualidade para se manter na rede, como em qualquer lugar ou qualquer área.

Um outro exemplo de identidade virtual é do americano Tom MacMaster, que manteve um blog como uma lésbica síria para mostrar ao mundo a repressão sexual e política na Síria. A fraude foi descoberta depois que uma mensagem sobre o sequestro da jovem blogueira gerou comoção na rede para sua libertação e que a verdadeira dona da foto, Jelena Lecic, divulgada no blog como o da blogueira síria, concedeu uma entrevista para BBC denunciando a fraude . Em entrevista concedida a uma revista brasileira, Veja – 14/06/011, o americano defende que a veracidade dos fatos relatados pela sua identidade virtual deveriam ser mais importantes do que a falsidade do seu personagem. Será?

A questão da autenticidade e da veracidade das informações é bastante delicada na sociedade pós-moderna, quando nos deparamos com a reprodução da complexidade humana em uma velocidade absurda proporcionada pelas redes mundiais de comunicação em um mundo em constante mudanças.

Referências bibliográficas:

CARNEIRO LEãO, E. Pós-Modernidade. Revista FACED, América do Norte, 10, ago. 2006. Disponível em: http://www.portalseer.ufba.br/index.php/rfaced/article/view/2687/1897. Acesso em: 17 Jun. 2011.

CASTELLS, M. (1999). A Sociedade em Rede. Paz e Terra. São Paulo.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Tradução Tomaz Tadeu da Silva e
Guaracira Lopes Louro. 9. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2006.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O desafio de selecionar recursos educacionais abertos

Entende-se por recursos educacionais abertos (REA), ou Open Educational Resources (OER), materiais educacionais disponíveis na Internet em formato digital sob alguma licença de uso.

Foram adotados os seguintes critérios para a seleção dos REAS para o desenvolvimento do trabalho da unidade curricular Materiais e Recursos para eLearning, ministrada por José Mota, pela Universidade Aberta de Portugal:
  • Idioma: língua portuguesa – a proposta de utilização dos REAs é para o desenvolvimento de um curso para prosissionais de uma empresa brasileira;
  • Tema: área de educação ou de recursos humanos;
  • Tipo de licença: REAs licenciados sob algum tipo de licença de uso;
  • Local de busca: repositórios de universidades ou de instituições voltadas para educação;
  • Qualidade do recurso.
Como a proposta era utilizar recursos desenvolvidos na língua portuguesa, a busca começou em repositórios brasileiros. 

Primeira opção foi a Rede Interativa Virtual de Educação (RIVED), do Ministério da Educação do Brasil. O RIVED é um repositório de objetos de aprendizagem que são recursos educacionais digitais desenvolvidos dentro de padrões determinados para que seja possível a sua reutilização em diferentes contextos educativos.

Os objetos do RIVED são armazenados em um repositório online, devidamente catalogados, permitindo, assim, que os usuários possam facilmente encontrá-los. Fazem parte do RIVED: textos, e-books, quizzes, programas de curso, cursos, simulações, apresentações, arquivos de áudio e vídeo, etc.

Os conteúdos produzidos pelo RIVED são públicos e estão sendo, gradativamente, licenciados pelo Creative Commons. Estava certa do sucesso da busca mas, infelizmente, após ter localizado o recurso, não foi possível acessar o objeto escolhido por problemas técnicos da página. O problema foi reportado à instituição porém, até o momento, não houve retorno.

Diante deste resultado, optou-se por outro repositório, da Fundação Getúlio Vargas, primeira instituição brasileira a fazer parte do OCWC (Open Course Ware Consortium), consórcio de instituições de ensino de diversos países que oferecem conteúdos e materiais didáticos de graça pela internet.

Dentre os cursos oferecidos pela FGV Online foi escolhido o curso gratuito: Motivação nas Organizações, que tem como objetivos:
  • tratar das principais teorias sobre motivação;
  • descrever alguns dos mecanismos de defesa usados pelos profissionais para resistir à frustação;
  • demonstrar a importância do autoconhecimento e do significado do trabalho para o processo motivacional.


O referido curso possui uma carga horária de 5 horas e, ainda, disponibiliza exercícios de autoavaliação e pré-teste. O curso está sob a licença Creative Commons Atribuição (BY), Uso Não-Comercial  (NC) e Não a obras derivadas (ND). 


A decisão de utilizar um curso completo, ao invés de um objeto de aprendizagem, influenciou na escolha do segundo recurso a ser selecionado, ou seja, deveria estar relacionado com a temática motivação no trabalho.

Foi iniciada uma pesquisa no Portal TECA, repositório de materiais didáticos produzidos pela Fundação Cecierj, tais como imagens, vídeos, áudios e textos disponíveis para o público em geral sob a licença Creative Commons Atribuição (BY) e Uso Não-Comercial (NC).  

Apesar do Portal TECA ter arquivado cerca de 1.000 arquivos, foram localizados 5 arquivos relacionados com o tema escolhido (motivação) e nenhum deles poderia ser utilizado como um recurso complementar de um curso de motivação, os materiais disponíveis eram capítulos de livros em pdf, uma animação voltada para escolha e uma imagem.

Outro site pesquisado foi da comunidade TED, trata-se de uma comunidade que tem como objetivo espalhar ideias que valem a pena e é considerada como um exemplo de como funciona uma comunidade global. Reúne pessoas de todas as disciplinas e de culturas diferentes que buscam uma compreensão mais profunda do mundo. Vários vídeos estão disponíveis sob a licença Creative Commons Atribuição (BY), Uso Não-Comercial  (NC) e Não a obras derivadas (ND). 

No site da comunidade TED é possível acessar vídeos legendados em 81 línguas, sendo que para o Português/Brasil estão disponíveis 75 vídeos legendados, resultado do trabalho de voluntários que fazem parte do Projeto de Tradução Aberta da TED.

O vídeo escolhido foi: Jason Fried: porque não se trabalha no trabalho, com duração de aproximadamente 16 minutos para a abertura do curso.

Percebe-se que a busca e a seleção de recursos abertos educacionais não são tarefas fáceis. Depende do objetivo de aprendizagem, do tempo disponível para a análise, do repositório, da qualidade técnica do recurso, da habilidade do professor, etc. Sem contar com a adaptação do recurso, apesar dos recursos escolhidos não permitirem modificação do recurso em si, nem sempre a modificação do conteúdo do REA  é a melhor opção, pois depende de programas específicos, profissional capacitado e tempo.

De qualquer forma, para fazer uso de um REA em um curso, e para que esses recursos não fiquem descontextualizados, é necessário realizar um planejamento da atividade de aprendizagem com a previsão do uso e com a sua inclusão na programação considerando os objetivos que se quer atingir.


É preciso incluir, no curso, a orientação de uso dos REAs para que os alunos compreendam a melhor forma de aproveitá-los para o seu aprendizado.

A partir da seleção dos recursos e da análise de como melhor utilizá-los, foi elaborado o documento que se segue com o detalhamento das atividades com os REAs escolhidos e um plano de curso fictício.

mrel05_2rea
Para acessar o documento em tela cheia: http://pt.scribd.com/fullscreen/57885435?access_key=key-1yly4jfhm27yd5kd4n17